
A mente tá um caso. Tava aqui no balcão, folheando um romance usado cheio de dobras (pecado). Ler não tá rolando, o silêncio e a morrinha tão me engatilhando, não tem um cliente na loja. Bora rabiscar aqui.
Então, acho que falhei no meu próprio desafio. Nada demais, nem grande surpresa. Nem ligo; não tinha sobre o que escrever mesmo.
Já hoje... Também não! Bom, tem esse gerente aqui que se vê como meu "camarada". Já perguntou três vezes se estou bem, ou seja, tô dando bandeira na distração. Cara chato. Dá pra contar numa mão o tanto de cliente que apareceu por aqui hoje.
Quem vai caçar livraria independente em plena segunda-feira? Nem os donos dão a cara por aqui tão cedo, e eles são fanáticos pelo próprio negócio - talvez só queiram conferir quantas cópias de seus livros vendemos, ainda não tenho certeza.
Amo o cheiro de livro, odeio o de café. Por que sempre associam uma coisa à outra? Tão clichê. Enfim, odeio café. Eu até bebia umas xícaras para espantar a lombeira da manhã (e do almoço). Mas graças ao diagnóstico, estou livre. Santa Rita!
Fernando adiou nossa sessão pra daqui a dois dias; problemas pessoais. Será que ele teve a própria sessão remarcada? Ainda não entendo psicólogos também precisarem de terapia. Puxei mãe na desconfiança, infelizmente.
Foi o conservadorismo de mãe que me afastou do tratamento; anos e anos pregando que Deus e a família eram tudo que um filho precisava. Amo mãe. É o que Deus espera de mim.
Vitimismo demais? Odeio o termo, mas é bem possível. Um dos exercícios mais antigos do Fernando trata disso: sempre que bater a autopiedade, olhe pra fora - no popular, "tira a cabeça da bunda".
Nunca fiquei confortável com a ideia. Então tenho que agradecer por minha condição porque não sou sem-teto nem aleijado de guerra? Mas tenho pensado muito nessa pérola existencial do Fernando.
É essa tragédia no Sul: pessoas desabrigadas, cidades debaixo d'água, tantas perdas. Um país mobilizado na coleta de doações e nos esforços humanitários - o presidente até adiou uma viagem ao Chile.
Longe de mim politizar a miséria alheia — já tem babacas "satânicos" demais fazendo isso por aí —, mas algo que escutei no ônibus me incomodou: por que crises do tipo não reverberam tanto quando ocorrem em outras regiões?
Tantas cidades e estados no Brasil já enfrentaram - ainda enfrentam - calamidades de calibre semelhante. Não tenho resposta, só o incômodo da pergunta e das insinuações levianas.
Estão me chamando. Salvo pelo gongo (você e eu). Nem vi a mulher entrar; um instante que preciso anotar isso antes que se perca na minha mente volúvel: parece que a ficção climática está na moda. Explico depois.
Talvez.
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