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O mundo ao redor escurece enquanto visões irrompem em existência. A voz de Lunen ecoa em minha mente; os olhos cor de lavanda, cintilam com travessura diante de mim. Estamos em uma floresta luxuriante, as árvores se elevando sobre nós como sentinelas ancestrais, as folhas multicoloridas e alienígenas sussurrando suavemente ao vento. Luz de fontes invisíveis, lá no alto, infiltra-se por meio da copa densa, lançando sombras que dançam no chão musgoso.
Lunen avança rápido, ganhando mais e mais distância, a determinação dela igualando o fogo ardente em seus olhos arregalados. Mesmo sob o traje de rastreadora, a pele dela brilha de forma estranha sob as luzes sinistras, e fascinantes. Por um momento, sinto como se compartilhássemos um senso de propósito, encarando um destino que nenhum de nós ainda entende. Bem, talvez, um de nós entenda.
Outra cena se desenrola diante dos olhos da mente: Lunen está num cume, olhando para baixo, envolta por chamas altas, pulsantes, quase vivas; uma visão bizarra, pois tanto a luz quanto a sombra revelam e ocultam a figura dela ao mesmo tempo; há também o calor, um familiar...
Então Lunen se vira para mim, e os lábios dela se movem, sem som, mas suas palavras claramente expressam seu espanto e excitação: nós encontramos! Minha mente então completa: um cristal; não outro qualquer, em outro planeta, em outro tempo. Lembro-me dela falando sobre os cristais, quando tentou me convencer, naquela primeira vez, de que não era apenas mais um trabalho. E depois, muitas outras vezes, quando me seduziu a continuar ao seu lado nessa busca sem sentido.
A voz de Lunen é etérea e firme ao mesmo tempo, ressoando com uma profundidade que sugere um conhecimento muito além de anos humanos. Ela fala de renovação, de ser uma com forças cósmicas naturais, todas as coisas vivas — uma teia interconectada, onde cada pulso pode causar ondulações em sua vasta extensão.
Eu não acredito. Nunca acreditei verdadeiramente. Mas sempre a segui. Por quê?
Enquanto vasculho essas memórias, algo frio pressiona contra minha palma. É pequeno, mas pesado. Abro minha mão: um pingente, o pingente. Um tríscele de adamantino com três pequenos cristais embutidos em três centros espiralados. Um memento que sempre pareceu como uma extensão da própria Lunen.
Segurando-o próximo ao peito, sinto a energia; ela pulsa no mesmo ritmo do cristal que meus dedos tocam, embora não haja qualquer sinal disso nas visões. Mas está lá.
As energias misturadas não ameaçam, e sim confortam. Entrelaçadas, elas mantêm uma promessa silenciosa, de orientação, de clareza; sussurram garantias para meu coração. O pingente dela agora é meu, para mas por que, e como? Isso ainda não me lembro.
O passado então vem como uma tempestade, assaltando os sentidos, esmagando minha alma, testando minha vontade; está repleto de trabalho, luta e, mais recentemente, dor. Lunen me afastou para me proteger. A ferida no peito não dói somente por ela; está me chamando, ansiando por lutar, para encontrá-la, para descobrir nosso destino conjunto.
Exausto, eu solto o cristal; o passado e suas tristezas diminuem. O tríscele aquece minha pele. Então o zumbido em ritmo constante, a melodia-guia que ecoa a força de Lunen. Mas há mais... O zumbido vem do pingente! Ele também brilha, os padrões mudando conforme movo minha mão ao redor de suas bordas.
O amuleto de Lunen indica o caminho.
Um senso de propósito renovado me invade. Eu nunca verdadeiramente acreditei nas bobagens de Lunen. Mas sempre a segui. E agora eu me lembro por quê.
Continua…
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Curiosidades:
As regras do RPG Solo Anamnesis são bem simples: antes de começar, deve-se separar o tarô em cinco baralhos: 22 Arcanos Maiores, os Pentáculos (Ouros), as Espadas, os Cálices (Copas) e os Cajados (Paus).
O jogador puxa uma carta do baralho dos Arcanos Maiores: esta é a Sombra, utilizada ao longo da partida para indicar quem o personagem foi no passado.
A partida é dividida em 5 Atos, utilizando cada baralho: 1 = Pentáculos, 2 = Espadas, 3 = Cálices, 4 = Cajados e 5 = novo Arcano Maior.
No início de cada Ato, o jogador saca 3 cartas do baralho correspondente, coloca diante de si e vira uma por vez. Cada carta virada tem uma provocação/pergunta associada no livro de regras.
Para cada provocação, saca-se um Arcano Maior e, usando-a em combinação com sua Sombra, interpreta-se e responde-se/escreve-se da melhor forma. Quando interpretar todas as 3 cartas, o jogador embaralha os Arcanos Maiores (menos a Sombra) e segue para o Ato seguinte. O jogo acaba após o jogador responder à última provocação no Ato 5.