Um fragmento do diário de KHAN-LI, Príncipe de Dimph-Yoo-Chur e Almirante da Marinha Persa
apresentado por J. A. MITCHELL
Aos atenciosos persas capazes de entender como um alerta a súbita ascenção e ligeira extinção de um povo tolo este volume é dedicado.
Algumas palavras por Hedful, epitetado “o eixo da sabedoria”
Curador do Museu Imperial em Xiraz. Autor de A Conquista Celestial de Kaly-fhorn-ya e de Mehrika do Norte sob os Soberanos Hy-Bernyanos.
As descobertas impressionantes de Khan-li de Dimph-yoo-chur lançaram torrentes de luz sobre a vida doméstica do povo Mehrikano. Ele mal podia se dar conta, ao desembarcar naquele continente adormecido, do serviço que estava a ponto de prestar à história, ou do entusiasmo que suas descobertas suscitariam entre os arqueólogos persas.
Todo estudante da antiguidade está familiarizado com esses fatos.
Contudo, para o benefício dos que ainda não adquiriram conhecimento desse povo extraordinário, eu aconselho, primeiro, uma visita ao museu em Teerã a fim de atiçar o interesse pelo assunto, e segundo, a leitura de livros como O que Encontramos no Oeste, de Nofuhl, e História dos Mehrikanos, de Noz-yt-ahl. Este último é uma história completa e confiável desse povo desde o nascimento da República sob George-wash-yn-tun ao ano 1990, quando deixaram de existir como uma nação. Devo dizer, porém, que Noz-yt-ahl deixa o leitor muito confuso a respeito do período entre o massacre dos protestantes em 1927 e o estouro da dinastia Murfey em 1940.
Ele compartilha da opinião de muitos outros historiadores de que os mehrikanos eram uma raça híbrida, de pouco ou nenhum patriotismo, e eram puramente imitativos; apenas uma cópia ampliada de outras nacionalidades existentes à época.
Ele os declara um povo extravagante, nervoso e superficial, e concede-lhes poucas virtudes redentoras. É justo, claro; não obstante, eles serão sempre um estudo interessante devido ao seu crescimento acelerado, grande número, à magnífica engenhosidade mecânica e ao seu súbito e quase inexplicável desaparecimento.
A riqueza, luxo e declínio gradual da população nativa; 1as assustadoras mudanças climáticas que arrasaram o país como uma ceifadeira ; a conversão acelerada de um continente vasto, repleto de milhões de amantes dos prazeres da vida, em um ermo silencioso, onde o sol e a lua se alternam sobre centenas de cidades cobertas por ervas daninhas – tudo isso é contado por Noz-yt-ahl com força e precisão.
“Eis a Verdade. É uma pílula amarga, mas bom fármaco.”
A BORDO DA ZLOTUHB NO ANO 2951
10 de Maio
Há terra à frente!
Grip-til-lah foi o primeiro a avistá-la, e quando ele berrou as novas meu coração acelerou de alegria. A tripulação faminta se esqueceu de seus estômagos inconsolados e está dançando pelo convés. Não sou eu, em verdade, quem há de contê-los! Um mês de inanidade em um mar agitado é preliminar para qualquer asneira. Apenas Nofuhl não se entusiasma. O coração do velho parece morto.
Podemos avistar a terra claramente, uma faixa indistinta ao longo do horizonte ocidental. Um vento favorável sopra do nordeste, mas prosseguimos com dificuldade cruel, pois a Zlotuhb é uma nau pesada, a proa bojuda e o fundo volumoso tornando-a inadequada para velocidade.
11 de Maio
Avistamos um porto bom esta tarde, e agora estamos ancorados. Grip-til-lah acredita que chegamos a uma das ilhas mencionadas por Ben-a-Bout. Nofuhl tem certeza, entretanto, de que estamos mais ao norte.
12 de Maio
Que mudança se deu em Nofuhl! Agora é o mais jovem a bordo. Todos nós partilhamos de seu encantamento, pois nossas descobertas são maravilhosas de fato. Esta manhã, enquanto eu ainda estava no beliche , ele entrou correndo na cabine e, esquecendo-se da diferença de patentes, pegou-me pelo braço e tentou arrastar-me para fora. Tamanha era sua excitação que pouco sentido captei em suas palavras. Apressando-me atrás dele, entretanto, eu estava admirado em ver membros tão velhos transportarem um homem tão rápido. Ele saltou as escadas estreitas como uma novilha e, mesmo jovem como sou, não pude acompanhar sua velocidade.
Todavia, que visão tive ao chegar ao convés! Ontem não avistamos nada, pois o crepúsculo já estava sobre nós quando ancoramos.
Bem à frente, no meio da baía, elevava-se uma estátua gigantesca, muito mais alta que os mastros de nossa nau. Além, por trás dessa estátua, fluía o rio largo em cujas águas flutuávamos, sua superfície reluzindo com o sol nascente. Ao leste, para onde Nofuhl estava apontando, os dedos tremendo de excitação, havia as ruínas de uma cidade interminável. Ela se estendia longe terra adentro, mais distante do que nossa vista alcançava. E no rio menor à direita havia duas estruturas colossais, erguendo-se altas no ar, como irmãos gêmeos a proteger as ruas desertas abaixo. Nenhum som chegava até nós – nada flutuante perturbava a superfície da água. Deveras, parecia o sono da morte.
Eu estava estupefato.
Enquanto admirávamos, ergueu-se do pé da imagem grande um pássaro estranho, semelhante a uma garça, com um lamento rouco, e voou na direção da cidade.
— O que tudo isso significa? – gritei. — Onde estamos?
— Onde, deveras! – disse Nofuhl. — Se eu soubesse ao menos isso, ó príncipe, poderia contar-lhe o resto! Nenhum viajante jamais mencionou essas ruínas. A história persa não contém registros de tal povo. Alá decretou que descobríssemos um mundo esquecido.
Em uma hora desembarcamos, e nos encontramos em uma rua ancestral, a pavimentação tomada por ervas daninhas, grama e flores, todas aglomeradas em abandono selvagem. Árvores imensas de grande antiguidade lançavam seus galhos através de janelas e telhados e produziam uma vista lúgubre. Forneciam uma sombra acolhedora, entretanto, pois percebemos que o caráter escaldante do calor no litoral era bem difícil de suportar. As construções curiosas de ambos os lados estão maravilhosamente preservadas, mesmo as lâminas de vidro ainda permanecem em muitos dos caixilhos de ferro das janelas.
Perambulamos pela grama espessa, Nofuhl e eu, muito animados com as nossas descobertas e encantados com o cenário estranho. A luz do sol é de um brilho deslumbrante, pássaros cantam por toda parte, e as ruínas são vistosas, com flores selvagens lindas. Logo nos encontramos no que outrora tinha sido uma praça pública, agora em grande parte um bosque sombreado. (Mais tarde averiguada ser a praça da prefeitura).
Aos sentarmos em uma cornija caída e admirarmos as construções altivas ao nosso redor, eu perguntei a Nofuhl se ainda desconhecia nosso paradeiro, e ele respondeu:
— Ainda não sei. A arquitetura é muito similar à da Europa antiga, mas isso não nos diz nada.
Então eu disse a ele em pilhéria:
— Que isso nos ensine, ó Nofuhl, a tolice da sabedoria excessiva. Quem entre teus pupilos da Faculdade Imperial em Ispaão acreditaria que o venerável instrutor de história e idiomas poderia visitar a maior cidade do mundo e saber tão pouco sobre ela!
— Tuas palavras são sábias, meu príncipe, – ele respondeu; — poucos bebês poderiam saber menos.
Enquanto deixávamos o bosque, meus olhos deram com uma laje virada que parecia ter um significado. Estava caída aos nossos pés, parcialmente oculta pela grama alta, desprendida das colunas que a sustentavam. Na superfície havia estranhos caracteres em relevo acentuado, tão nítidos e evidentes quanto de seu cinzelamento dez séculos atrás. Indiquei-a Nofuhl e nos curvamos sobre ela com olhos ávidos.
Estava escrito:
ASTOR HOUSE2
— A inscrição é do Inglês Antigo, – ele disse. — ‘House’ significava uma habitação, mas a palavra ‘Astor’ eu desconheço. Provavelmente era o nome de uma divindade e aqui era seu templo.
Era encorajador, e procuramos ansiosos por outros sinais.
Nossos pés logo nos conduziram a outra rua, e enquanto caminhávamos expressei minha surpresa com a excelente preservação da obra de pedra, a qual parecia ter sido talhada ontem.
— Em tal atmosfera a deterioração é lenta, – disse Nofuhl. — Pelo menos mil anos se passaram desde que as casas foram ocupadas. Veja o carvalho acolá, por exemplo; a árvore em si tem crescido por pelo menos cem anos, e sabemos pela massa caída abaixo dela que séculos se passaram antes que seu nascimento fosse possível.
Ele se calou, os olhos fixos em uma inscrição sobre um pórtico, em parte oculto por um dos ramos do carvalho.
Voltando-se de supetão para mim com um olhar de triunfo, exclamou:
— É nosso!
— O que é nosso? – questionei.
— O conhecimento que buscávamos; – ele indicou a inscrição:
NEW YORK STOCK EXC...3
Continua…
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