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O Último Americano - Final
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O Último Americano - Final

Uma novela de John Ames Mitchell

abr 13, 2024
∙ Pago

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O Último Americano - Final
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Ilustração da edição de 1902

Perdido? Comece aqui. Se leu a parte anterior, continue…


4 de Julho (cont.)

Por estar mais perto da dama e bem afetado por sua beleza, dirigiu-se a ela como Hur-al-missa (a mais angelical das mulheres), o que, claro, a mulher não compreendeu. Teria ficado por isso se Ja-khaz não tivesse ido além, mas a seguir ele pôs seu braço em volta da cintura dela com a intenção de beijá-la. Muito apavorada, ela tentou se libertar. Mas Ja-khaz, segurando seu belo queixo com a outra mão, aproximou seus lábios dos dela, ao que o velho ergueu um pesado cajado e o baixou contra a cabeça de nosso camarada com cruel rapidez. O som do bastão caindo sobre um crânio sólido ressoou pela cúpula e ecoou pelos corredores vazios.

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Bhoz-ja-khaz piscou e cambaleou para trás.

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Então, com fúria no rosto, ele saltou selvagemente em direção ao ancião.

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Mas o mehrikano mais jovem interviu. Aproximando-se rapidamente dos dois e fechando com força a mão esquelética, ele golpeou com velocidade surpreendente, tão certeiro que atingiu o rosto de Ja-khaz, para nossa surpresa, fazendo-o cair no pavimento de mármore, o sangue escorrendo de suas narinas. Era uma visão lamentável.

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Desacostumados a tal forma de embate, ficamos seriamente alarmados e pensamos que talvez ele tivesse morrido. Lutador poderoso e de constituição forte, Ad-el-pate avançou em fúria contra o mehrikano, por quem eu estremecia. Mas outra vez o homem estendeu o braço diante de si, e Ad-el-pate também foi golpeado. Um espetáculo lamentoso, e cada persa sentiu seu coração bater forte dentro de si.

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A essa altura, Ja-khaz estava de pé outra vez, roxo de raiva. De cimitarra erguida, saltou em direção ao nosso anfitrião. O velho se interpôs entre ambos. Com crueldade desenfreada, Ja-khaz guiou o aço rumo à cabeça velha e lançou-a ao chão. Por um instante, o mais jovem ficou horrorizado, então, apanhando do chão o cajado do patriarca – um bastão pesada com ponta de ferro –, saltou adiante e, mais rápido do que as palavras podem descrever, desferiu um golpe terrível na cabeça de Ja-khaz, mandando-o ao chão com o crânio fraturado.

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Tudo isso ocorreu em um instante, e uma confusão selvagem se seguiu. Meus seguidores sacaram as armas e avançaram contra o mehrikano. A garota avançou aterrorizada ou para proteger o marido, não sei bem, quando uma seta voou a partir da balestra de um marinheiro e a perfurou o coração.

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Isso deu ao mehrikano a energia de vinte homens.

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Ele nocauteou o bravo Kuzundam com um golpe que teria matado um boi. Tal fúria eu não havia concebido. Ele desceu o cajado voador sobre os crânios persas como um raio caindo do céu, mas sempre se movendo em direção à porta para evitar que seus inimigos o cercassem. Em poucos minutos, quatro de nós juntaram-se a Ja-khaz no chão. Kuzundam, Ad-el-pate, Fattan-laiz-eh e Ha-tak, um marinheiro, todos estavam estendidos no piso, mortos ou feridos gravemente.

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Foi tudo tão repentino que mal percebi o que havia acontecido. Avancei para cessar o combate, mas o homem interpretou mal o meu propósito, atingiu minha cimitarra com uma força que a fez voar pelo ar, e ergueu seu bastão para desferir um segundo golpe em mim, quando o bravo Lev-el-Hedyd interveio em meu socorro, e o atacou rapidamente. Mas ai de mim! O mehrikano evitou o golpe com outro ainda mais ligeiro e desceu o bastão com tal velocidade contra a cabeça de meu camarada que o derrubou junto aos demais.

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Quando Lev-el-Hedyd sucumbiu, eu notei que o mehrikano tinha muitos ferimentos, pois meus camaradas tinham atacado com violência. Ele cambaleou de volta para a passagem, onde se encostou à parede por um instante, seus olhos encontrando os nossos com uma expressão de desafio e desprezo que eu de bom grado esqueceria. Então o cajado caiu de sua mão; ele cambaleou até o grande pórtico e caiu estirado no chão. Nofuhl correu em sua direção, mas o homem estava morto.

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Quando ele caiu, uma coisa maravilhosa ocorreu – uma coisa impossível, agora que me recordo, mas tanto Nofuhl quanto eu vimos claramente.

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Em frente aos grandes degraus e encarando o pórtico há uma imagem imensa de George-wash-yn-tun sentado. Quando o mehrikano cambaleou pelo pórtico, as mãos estendidas diante dele e com a morte em seu peito, esta estátua baixou a cabeça lentamente, como se em reconhecimento a uma luta valorosa.

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Talvez tenha sido a triste aceitação de um final amargo.

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7 de Julho

Novamente no mar.

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Desta vez rumo à Pérsia, levando nossos feridos e as cinzas dos mortos; os cadáveres dos nativos repousam sob o Grande Templo. O crânio do último mehrikano eu hei de apresentar ao museu em Teerã.

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