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O Último Americano - Parte 7
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O Último Americano - Parte 7

Uma novela de John Ames Mitchell

abr 06, 2024
∙ Pago

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O Último Americano - Parte 7
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Ilustração da edição de 1902

Perdido? Comece aqui. Se leu a parte anterior, continue…


2 de Julho

Estamos no rio que leva a "Washington". Grip-til-lah diz que avistaremos a cidade amanhã. O rio é de uma cor suja.

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3 de Julho

Vemos adiante as ruínas de uma grande cúpula, também um poste muito alto. Provavelmente pertencem à cidade que procuramos.

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4 de Julho

Uma data que não esqueceremos!

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Esta manhã, quando deixamos a Zlotuhb com disposição hilariante, eu mal era capaz de imaginar os acontecimentos calamitosos que nos aguardavam. Desembarquei por volta do meio-dia, acompanhado por Nofuhl, Lev-el-Hedyd, Bhoz-ja-khaz, Ad-el-pate, Kuzundam, o imediato, Tik'l-palyt, o cozinheiro, Fattan-laiz-eh, e dois marinheiros. Nossa marcha mal havia começado quando uma descoberta surpreendente causou grande comoção em nossas mentes. Havíamos parado a pedido de Nofuhl, para decifrar a inscrição em uma pedra, quando Lev-el-Hedyd, que começava a dizer algo, interrompeu-se com uma exclamação repentina. Corremos até ele, e ali, na terra fofa, estava a marca de pés humanos!

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Não posso descrever nossa surpresa. Decidimos seguir as pegadas e logo percebemos que elas nos guiavam em direção à grande cúpula mais diretamente do que poderíamos ter seguido por conta própria. Não havia palavras para o nosso entusiasmo. Os de nós que tinham armas as carregavam em prontidão. O caminho era pouco utilizado, mas claramente marcado. Ele serpenteava entre fragmentos caídos e estátuas destroçadas, e nos levou por uma ampla avenida entre construções de grande tamanho e solidez, muito superiores a qualquer uma que tínhamos visto em Nhu-Yok. Parecia uma cidade de monumentos.

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Quando subimos a colina até o grande templo, e o avistamos por entre as árvores que se erguiam bem acima de nós, ficamos muito impressionados com seu vasto tamanho e beleza. Nossos olhos correram admirados pelas colunas maciças, cada uma delas talhadas em um só bloco, ainda branco e conservado, como se tivesse sido extraído da terra recentemente. O caminho nos levou por baixo de um dos arcos inferiores da construção e emergimos do outro lado. Esta fachada era ainda mais bonita do que a que dava para a cidade. No centro havia um lance de escadas de proporções magníficas, agora aos pedaços, coberta de grama e flores em muitos lugares.

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Subimos os degraus. Enquanto eu ia em silêncio, os outros seguindo, vi dois pés humanos, solas voltadas para nós, descansando na balaustrada acima. Com um gesto, chamei a atenção de Nofuhl para eles, e os olhos do velho brilharam de alegria. Era um mehrikano? Confesso que estava muito animado com a perspectiva de conhecer um. Quantos seriam? E como eles nos tratariam?

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Olhando para baixo na direção do meu pequeno bando para ver se todos estavam lá, com audácia subi os degraus restantes e parei diante dele.

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Ele estava recostado em um curioso assento de quatro pernas, com os pés sobre a balaustrada, quase ao nível de sua cabeça. Vestindo peles e uns panos rústicos, ele se parecia muito com um caçador, e me fitava em silêncio, como se um nobre persa fosse um convidado comum. Tal recepção não foi gratificante, principalmente por ele ter permanecido na mesma posição, sem nem ao menos recolher os pés. Com a cabeça curiosa, ele acenou uma vez para baixo e outra para cima, considerando aquilo saudação suficiente.

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A preservação de minha própria dignidade perante meu séquito proibia minha presença de tal forma, diante de um bárbaro sentado, e fiz um gesto para que ele se levantasse. A isto ele respondeu de maneira inadequada, ejetando de sua boca um líquido amarronzado, projetando-o para além da balaustrada a sua frente. Então, olhando para mim como se a ponto de gargalhar, mas ainda com uma expressão séria, ele pronunciou algo com uma voz nada musical que não pude entender.

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Diante disso, havendo entendido o significado de uma ou duas palavras, Nofuhl avançou apressado e se dirigiu a ele em seu próprio idioma. Contudo, o bárbaro entendeu com dificuldade e ambos tiveram problema em conversar, em grande parte devido à pronúncia de Nofuhl. Posteriormente, ele me disse que a linguagem desse homem era um pouco diferente daquela que os mehrikanos tinham escrito onze séculos atrás.

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Quando ele finalmente se levantou para conversar com Nofuhl, eu pude observá-lo melhor. Era alto e esquelético, com um pescoço estranho, e parecia, à primeira vista, um homem de quarenta anos. Mais tarde decidimos que tinha menos de trinta. Sua pele amarela e a falta de cabelo o faziam parecer bem mais velho do que era. Eu também fiquei muito intrigado com a expressão de seu rosto. Era de uma tristeza profunda, mas seus olhos estavam cheios de euforia, e um canto de sua boca se erguia como se estivesse zombando. Quanto a mim, não gostei de seus modos. Ele parecia pouco impressionado com tantos estranhos, e se portava como se fosse de pouca importância se o compreendíamos ou não. Contudo, depois Nofuhl me informou que o homem fez uma série de perguntas a nosso respeito.

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O que Nofuhl compreendeu foi o seguinte:

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Este mehrikano, sua esposa e um velho eram tudo o que restava de sua raça. Trinta e um morreram neste verão. No passado, havia muitos milhões de seus compatriotas. Eles eram a maior nação da terra. Ele não sabia ler. Tinha dois nomes, um era "Jon", o outro havia esquecido. Eles moravam neste templo porque era fresco. Quando o templo havia sido construído, e com que propósito, não sabia dizer. Ele apontou para oeste e disse que o país naquela direção estava coberto de cidades em ruínas.

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Quando Nofuhl disse que éramos amigos, e o presenteou com uma faca de caça de excelente acabamento, o homem estendeu o braço direito em minha direção e o manteve no ar. Por um instante, Nofuhl olhou para o braço com admiração, como todos nós, e então, com súbita inteligência, ele agarrou a mão estendida na sua e a moveu para cima e para baixo. Isso foi interessante, pois Nofuhl me disse que era uma forma de saudação entre os antigos mehrikanos.

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Enquanto tudo isso acontecia, passamos para o grande salão circular sob a cúpula. Este salão era de grandes proporções e ainda havia vestígios de seu antigo esplendor. Contra as paredes havia estátuas de mármore entrelaçadas em hera, encarando-nos com olhos melancólicos. Também aqui encontramos um velho magro, cuja cabeça careca e rosto imberbe quase nos emocionaram.

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A pedido de Nofuhl, nosso anfitrião mostrou o caminho até alguns dos quartos menores para nos mostrar sua maneira de viver, e seria impossível imaginar um misto mais patético de glória e decadência, de riqueza e pobreza, de civilização e barbárie. Mobília antiga, pratos de prata, imagens de bronze, até pinturas e adornos de grande valor estavam espalhados pelos cômodos, lado a lado com os mais primitivos instrumentos. Estava claro que as artes antigas há muito tinham sido esquecidas.

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Quando retornamos ao salão circular, nosso anfitrião desapareceu por alguns momentos em uma sala que não havia nos mostrado. Ele voltou trazendo um vasilhame de pedra com gargalo estreito, e estava acompanhado por uma donzela que carregava taças de cobre e estanho. Ela as depositou sobre um fragmento caído da cúpula que servia de mesa.

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Essa garota era interessante. Uma cabeça frágil, traços delicados, cabelo louro, olhos azuis e uma expressão suave de tristeza que tocou meu coração. Se ela fosse feia, este dia teria tido um final diferente!

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Todos nós a cumprimentamos, e o mehrikano disse algumas palavras que interpretamos como uma apresentação. Ele encheu as taças com o vasilhame de pedra e então, dizendo algo que Nofuhl não conseguiu entender, segurou a sua diante do rosto com um movimento peculiar e a levou aos lábios. Ao que Lev-el-Hedyd agarrou meu braço e exclamou:

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— O mesmo gesto do fantasma!

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E então, como se falasse para si mesmo:

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— E hoje é quatro de julho.

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Mas ele bebeu, como todos nós, porque nossa sede era grande e o aroma do líquido dourado era muito estimulante. Tinha um sabor mais ardente do que os fogos de Jelbuz. Era também de grande pujança e proporcionava uma bela animação aos sentidos. Ficamos mais felizes de pronto.

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E aqui foi que Ja-khaz fez uma coisa fatal.

​

A concluir…

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Sua vez!

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